OFICINA "ART TEA"

Conforme prometemos aos participantes da OFICINA ART TEA, que aconteceu no último dia 28/08/2010 no Atelier Nao Yuasa, estamos disponibilizando alguns textos para leitura, fotos, videos, bibliografia, etc, que possam dar suporte o projeto que terá como tema gerador o "FLOWER TEA" e que  será desenvolvido no atelier durante este semestre.

Segue uma pequena apresentação que a "CHOCOLATS DES ARTS" nos cedeu, a respeito do tema gerador "FLOWER TEA":

JOGO DE PALAVRAS

Estas foram as palavras sugeridas pelos participantes a respeito do "FLOWER TEA". vale a pena relembrá-las para servirem de subsídio no momento de desenvolver o projeto:
      (se, por acaso, esquecemos alguma palavra sugerida, por favor nos avisem e incluiremos no quadro)

Querem ver mais fotografias da oficina? Acessem o link:

Foram feitas mais  fotos da oficina e fotos individuais dos desenhos, objetos tridimensionais e o "Cadáver Esquisito". Tão logo elas sejam editadas vamos postá-las.

TEXTOS 
O texto abaixo foi escrito e lido pelo Meguni Yuasa durante a sua apresentação que teve como tema "A Imaginação Reprodutora e a Imaginação Criadora":

RITMO DO UNIVERSO
Há que considerar, lembrar,
sonhar, imaginar,
intuir o ritmo das partículas,
do movimento e das forças.
Sentir, perceber, pensar
o ritmo surdo e invisível
que rege o todo.

Ritmo mole da cera e da argila,
duro das pedras e da madeira.
Da leveza do ar e do espírito,
plasticidade e luz dos metais.
Da fluidez da água e do pensamento.

Ritmo dos átimos,
enigmas do fogo, das energias
e da eternidade.

Ritmos do novo e das ladainhas,
da dor e do gozo.
Intangíveis, velozes ou lentos,
ritmos do imaginário,
da vida e da morte.

Encontro de todos os ritmos,
da observação e das combinações múltiplas,
na coreografia complexa
de espaços e processos absurdos,
do teatro universal

madrugada fria de início de agosto de 2010 – Megumi Yuasa



Seguem também alguns textos que utilizamos, pois falam a respeito do processo de criação e podem ajudar:

O Ato Criador por Marcel Duchamp


“Duchamps é um movimento artístico feito por um único homem, mas um movimento para cada pessoa aberto a todo mundo”. Willem de Kooning.
Consideremos dois importantes fatores, os dos pólos da criação artística, de um lado e do outro o público que mais tarde se transforma na posteridade.
Aparentemente, o artista funciona como um ser mediúnico que, de um labirinto situado além do tempo e do espaço, procura caminhar até a clareira.
Ao darmos ao artista os atributos de um médium, temos de negar-lhe um estado de consciência, no plano estético, sobre o que está fazendo ou porque o está fazendo. Todas as decisões, relativas à execução artística de seu trabalho permanecem no domínio da pura intuição e não podem ser objetivadas numa auto-análise falada ou escrita, ou mesmo pensada.
T.S.Elliot escreve em seu ensaio sobre Tradition and Individual Talents:
“Quanto mais perfeito o artista, mais completamente separados estarão nele o homem que sofre e a mente que cria; e mais perfeitamente a mente assimilará e expressará as paixões que são seu material.”
Milhões de artistas criam. Somente alguns poucos milhares são discutidos e aceitos pelo público e muito menos ainda consagrados para a posteridade.
Em última análise, o artista pode proclamar de todos os telhados que é u gênio. Terá de esperar pelo veredicto do público para que a sua declaração assuma um valor social e para que finalmente a posteridade o inclua entre as figuras primordiais da História da Arte.
Sei que esta afirmação não contará com a aprovação de muitos artistas que recusam o papel mediúnico e que insistem na validade da sua conscientização em relação à arte criadora. Contudo, a História da Arte tem persistentemente decidido sobre as virtudes de uma obra de arte, através de considerações completamente divorciadas das explicações racionalizadas do artista.
Se o artista, como ser humano, repleto das melhores intenções para consigo mesmo e para o mundo inteiro, não desempenha papel algum no julgamento do próprio trabalho, como poderá ser descrito o fenômeno que conduz o público a reagir criticamente à obra de arte? Em outras palavras, como se processa esta reação?
Este fenômeno é comparável à uma transferência do artista para o público, sob a forma de uma osmose estética, processada através de matéria inerte, tais como a tinta, o piano, o mármore.
Antes de prosseguir, gostaria de esclarecer o que entendo pela palavra arte, sem certamente tentar uma definição.
O que quero dizer é que a arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas seja qual for o adjetivo empregado, devemos chamá-la de arte, e arte ruim, ainda assim é arte da mesma forma que a emoção ruim é emoção.
Por conseguinte, quando eu me referir ao “coeficiente artístico”, deverá ficar entendido que não me refiro somente a grande arte, mas estou tentando descrever o mecanismo subjetivo que produz a arte em estado bruto – à l’état brut – ruim, boa ou indiferente.
No ato criador, o artista passa da intenção à realização, através de uma cadeia de reações totalmente subjetivas. Sua luta pela realização é uma série de esforços, sofrimentos, satisfações, recusas, decisões que também não podem e não devem ser totalmente conscientes, pelo menos no plano estético.
O resultado deste conflito é uma diferença entre a intenção e a sua realização, uma diferença de que o artista não tem consciência. Por conseguinte, na cadeia de reações que acompanham o ato criador, falta um elo. Esta falha que representa a inabilidade do artista em expressar integralmente a sua intenção. Esta diferença entre o que quis realizar r o que realizou é o coeficiente artístico pessoal contido na sua obra de arte. Em outras palavras, o coeficiente artístico pessoal é como uma relação aritmética entre o que permanece inexpressivo embora intencionado e o que é expresso não intencionalmente.
A fim de evitar um mal entendido, devemos lembrar que este coeficiente artístico é uma expressão pessoal da arte a l’état brut, ainda num estado bruto, que precisa ser refinado pelo público como o açúcar puro extraído do melado. O índice deste coeficiente não tem influência alguma sobre o veredicto. O ato criador toma outro aspecto quando o espectador experimenta o fenômeno de transmutação. Ela transformação da matéria inerte numa obra de arte, um transubstanciado real processou-se e o a papel di o público é o de determinar qual o peso estético da obra de arte na balança estética.
Resumindo, o ato criador não é executado pelo artista sozinho.O público estabelece o contato entre obra de arte e mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades intrínsecas e, desta forma, acrescenta sua contribuição ao ato criador. Isto torna-se ainda mais óbvio quando a posteridade dá o seu veredicto final e às vezes reabilita artistas esquecidos. Fim


Cadáver esquisito

Cadáver esquisito é um jogo coletivo surrealista inventado por volta de 1925 na França.
No início do século XX, o movimento surrealista francês inaugurou o método "cadavre exquis" (cadáver esquisito) que subvertia o discurso literário convencional. O cadáver esquisito tinha como propósito colocar na mesma frase palavras inusitadas utilizando-se da seguinte estrutura frásica: artigo, substantivo, adjetivo e verbo. Outra curiosidade a respeito do método é que agregava mais de um autor. Cada um deles interferia da maneira que desejasse, porém, dobrando o papel para que os demais colaboradores não tivessem conhecimento do que foi escrito antes.
O método recebeu este nome porque uma das frases escolhidas durante as primeiras experiências foi: "o cadáver esquisito beberá o vinho novo".
O método pode também ser a realização de um desenho coletivo, sem que nenhum dos intervenientes saiba o que fizeram os outros, aproveitando apenas os traços de ligação (pistas) deixados sobre as dobras do papel. Ao desdobrar, verifica-se, com surpresa, a relação inesperada entre as figuras desenhadas. Essa técnica provoca a livre associação de imagens fora do contexto habitual; um jogo gráfico sobre papel dobrado ou enrolado.
Por seu caráter insólito, humorístico, ou até provocatório, esta técnica proporciona resultados mais surpreendentes se o desenho for intencionalmente figurativo.
A palavra, a forma, e a cor são a matéria-prima da criação; são a primeira linha de materialização do pensamento. A associação íntima existente entre o pensamento e esses elementos é condição necessária para que assumam sua expressão no real.
O Cadáver-Esquisito é na prática o congregar das pessoas pelo exercício artístico. Este resulta como expressão coletiva das liberdades individuais, acabando definitivamente com o dogma exclusivista do criador-autor, compartimentado a uma só pessoa. A assinatura deixa de ser o fetiche.
A atividade lúdica proposta é libertadora de tensões, e convida tolerantemente à partilha dos pontos comuns e das discórdias, para a criação de um imaginário coletivo onde cada um contribui com a sua parte criativa, para a abolição do que é normativamente percebido como opostos: prazer/trabalho.
O real único funde-se com o surreal múltiplo, recupera a própria existência quotidiana, adicionando-lhe a renovação oferecida pelo sentido poético ao que diariamente nos ocupa através do trabalho, das paixões e anseios. Este é o momento a partir do qual a criação se tornou possível nas mãos de todos.
Temos como características importantes no processo criativo do cadáver esquisito:
• criação coletiva,
• fragmentação e perda de unidade,
• a surpresa, o imprevisível, o acidental,
• padrão coletivo: a mística das coincidências,
• comunicação pela obra.
O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido primariamente na Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo. Reunia artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo; posteriormente expandiu-se para outros países. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatizava o papel do inconsciente na atividade criativa.
Como característica deste estilo temos: combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos. O principal teórico e líder do movimento é o poeta, escritor, crítico e psiquiatra francês André Breton (1896 -1966), que em 1924 publica o Manifesto Surrealista.
No manifesto e nos textos teóricos posteriores, os surrealistas rejeitavam a chamada ditadura da razão e os valores burgueses como pátria, família, religião, trabalho e honra. Humor, sonho e a contra-lógica são recursos a serem utilizados para libertar o homem da existência utilitária. Segundo a nova ordem, as idéias de bom gosto e decoro devem ser subvertidas. Neste sentido, o Surrealismo aproximava-se daquelas que eram chamadas de vanguardas positivas, como o neoplasticismo e a Bauhaus, chegando inclusive a dialogar com o movimento comunista. No entanto, pela sua proposta estética, está mais próximo das vanguardas negativas, como o supracitado dadá, de onde surgiu parcialmente.
Uma das principais idéias trabalhadas pelos surrealistas é a da escrita automática, segundo a qual o impulso criativo artístico se dá através do fluxo de consciência despejado sobre a obra. Ainda segundo esta idéia, a arte não é produto de gênios, mas de cidadãos comuns.
A palavra surrealismo havia sido criada em 1917 pelo poeta Guillaume Apollinaire (1886-1918), ligado ao Cubismo, para identificar expressões artísticas que se esboçavam e foi adotada pelos surrealistas por refletir a idéia de algo além do realismo.
Em 1929, os surrealistas publicam um segundo manifesto e editam a revista “A Revolução Socialista”. Entre os artistas ligados ao grupo, em épocas variadas, estão os escritores franceses Paul Éluard (1895-1952), Louis Aragon (1897-1982) Benjamin Péret (1899-1959) e Jacques Prévert (1900-1977), o escultor italiano Alberto Giacometti (1901-1960), o pintor italiano Vito Campanella (1932), o dramaturgo francês Antonin Artaud (1896-1948), os pintores espanhóis Salvador Dali (1904-1989) e Juan Miró (1893-1983), o belga René Magritte (1898-1967), o alemão Max Ernst (1891-1976), e o cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983), e, . André Breton na literatura.
Nos anos 30, o movimento internacionaliza-se e influencia várias outras tendências, conquistando adeptos em países da Europa e nas Américas.
No Brasil, o surrealismo foi uma das muitas influências captadas pelo modernismo.
Dalí e Magritte criaram as mais reconhecidas obras do movimento. Dalí entrou para o grupo em 1929, e participou do rápido estabelecimento do estilo visual entre 1930 e 1935.
Surrealismo como movimento visual tinha encontrado um método: expor a verdade psicológica ao despir objetos ordinários de sua significância normal, a fim de criar uma imagem cativante que ia além da organização formal ordinária, invocava a empatia do observador
A Segunda Guerra Mundial provou ser disruptiva para o Surrealismo. Os artistas continuaram com suas obras, incluindo Magritte. Muitos membros do movimento continuaram a se corresponder e se encontrar; em 1960, Magritte, Duchamp, Ernst e Man Ray se encontraram em Paris.
Apesar de Dali não mais se comunicar com Breton, não os conceitos dos anos 30, incluindo referências da sua obra “Persistência do Tempo” em seu trabalho posterior.
O trabalho de Magritte se tornou mais realista na representação dos objetos, mantinha o elemento de justaposição, como em sua obra “Valores Pessoais” (1951) e “Império da Luz” (1954). Magritte continuou a produzir obras que entraram para o vocabulário artístico, como “Castelo nos Pireneus”, que faz uma referência a “Voix” de 1931, na sua suspensão sobre a paisagem. Outras personalidades do movimento Surrealista foram expulsas.
Os procedimentos e métodos eram pensados para serem capazes de driblar os controles conscientes do artista e, portanto, responsáveis pela liberação de imagens e impulsos primitivos. A escrita e a pintura automáticas, seriam formas de transcrição automática do inconsciente, pela expressão do “funcionamento real do pensamento”). A frottage [fricção] desenvolvida por M. Ernst faz parte das técnicas automáticas de produção. Trata-se de esfregar lápis ou crayon sobre uma superfície áspera ou texturizada para “provocar” imagens, resultados aleatórios do processo (por exemplo, a série de desenhos “História natural”, realizada entre 1924 e 1927).Fim
Texto extraído e traduzido do catálogo de uma exposição da Galeria Nina Dausset, em Paris, em Outobro de 1948, entitulado "O Cadáver Esquisito: sua Exaltação"

Alguns exemplos de exercícios de Cadáver Esquisito:




BIBLIOGRAFIA

Para quem se interessar  de ler sobre os temas propostos para reflexão na Oficina, indicamos a leitura destes livros:

“A Água e os Sonhos” – Ensaio sobre a imaginação da matéria

“A Poética do Espaço”


“A Terra e os Devaneios da Vontade” – Ensaio sobre a imaginação das forças


“O Ar e os Sonhos” – Ensaio sobre a imaginação do movimento


Todos de Gaston Bachelard, editados pela Martins Fontes.